As Mulheres Executivas e a Solidão

Outro dia, numa conversa de botequim com uma amiga executiva de uma grande empresa da área de comunicação, com aquele perfil que vocês já conhecem de cor e salteado – competente, premiada, criativa, feliz com seu ofício, pressionada, estressada e invejada – ela me confessou num tom entre nostálgico e resignado: “Me considero uma profissional bem sucedida e não posso negar nesse fato um gostinho de realização e vitória. Mas tenho sentido cada vez mais saudades de mim mesma”. Seu subtexto, aquilo que ela disse sem articular palavra alguma, foi: “Essa distância cheira à solidão. Gostaria de poder me reencontrar”.

Realização profissional e desencontro consigo mesmo. Incoerência? Contradição? Incompatibilidade? Numa reflexão minimamente honesta, cravamos a resposta: não! E aqui é preciso distinguir essa solidão da solidão travestida de carência afetiva ou sexual, ausência de amigos nos rodeando ou mesmo da conhecida pressão de se sentir só numa tomada de decisão, desafio comum no mundo corporativo. E também não há sucesso, reconhecimento, dinheiro que possam saciar essa falta de que fala minha amiga. Existe em nós uma fome essencial.

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma. Ao enxergar a saudade de si mesma, minha amiga começou a encontrá-la.

A alma é o revés da solidão. Temos que reencontrá-la. Para isso, permaneça diante de si silencioso e atento. Ela é realização e completude plenas, um bem-estar com a existência, independente das condições exteriores. E como não estamos conscientes dessa potência, permanecemos como estrangeiros para nós mesmos, sentindo uma saudade vaga, indefinida, porém real. É um exílio de si mesmo. Para o vazio chegar e se instalar é uma questão de tempo.

Como não temos a menor ideia de onde vem esse vazio, dada nossa inconsciência, e só o percebemos quando está próximo demais, corremos dele como quem corre de um tsunami. Queremos escapar. Mas é preciso escolher a direção certa. Muitas vezes escolhemos a rota do trabalho, nos engajando numa escalada profissional insana na ilusão de que chegar “lá” irá nos redimir. E fica aqui a pergunta: O que é chegar “lá”?

Executivos compulsivos morrem de medo quando o fim de semana se aproxima. O que eles vão fazer? Se não forem tentar esquecer sua solidão confrontando-a com escaladas de montanhas e mergulhos em águas profundas, serão obrigados a ficar consigo mesmos. E isso ninguém quer. Essa é uma experiência dolorosa.

Não é possível ter êxito nesse esquecimento, ela vai sempre voltar e voltar. Você pode tentar ignorar, mas jamais vai conseguir esquecer. A condição humana é mesmo misteriosa… Nascemos sós e morremos sós, no entanto fazemos de tudo para não permanecermos diante dessa realidade.

É evidente que o sucesso profissional, trazendo com ele o reconhecimento e a consequente liberdade financeira é uma meta mais do que desejável. Ela é autêntica e legítima. Ninguém nega isso. Só não podemos errar o alvo, voltando as costas para nossa essência.