Gestão de Pessoas – Dentro e Fora das Organizações

Segundo o nosso querido “Aurélio”, a palavra Gestão está definida como “o ato de gerir, administrar”. E administrar, definido como “governar; reger; ordenar os fatores de produção e controlar sua eficiência e produtividade para obter-se determinados resultados”.

Definições impessoais à parte, vamos além para colocar vida nisto. O que dá sentido a estas definições formais é um detalhezinho básico chamado pessoas. Pessoas não são objetos passíveis de serem “ordenados” e “controlados”, e até aí isto não é novidade, aliás me perdoem pelo meu pobre clichê.

Mas, até que se pararmos para pensar bem, sim, existem pessoas exatamente assim! Pessoas condicionadas (é, iguais aos ratinhos do Skinner) a não darem um passo sem que alguém as mande fazê-lo – talvez até por fatores sociais ou econômicos – ou preguiça mesmo. Que precisam de alguém que as oriente em que pensar, em que acreditar e o que praticar. E sabem o que é pior? Tem muita, mas muita gente que aproveita este tipo de pessoa, perfeitos fantoches, sem o que tirar nem acrescentar: e as empresas unem o útil ao agradável.

Não tem nem como ignorar a existência deste fato, até porque os “mandantes” e os “paus-mandados” estão aterrorizantemente por toda a parte! Hoje, por um segundo tive um insight sobre este pessoal.

Nem precisamos ir longe: o que são aqueles projetos de seres pensantes do telemarketing ou do SAC das nossas lindas, queridas e conceituadas empresas de telefonia, cuja assistência é nula quando você mais precisa, porém, que estão sempre (irritantemente sempre) ali, com aquela voz aveludada, a pedir um pouco mais de sua paciência, mesmo quando ofendidas? E nos hotéis, quando cansado, você chega e dá de cara com aqueles pseudo-recepcionistas robóticos horripilantes? Desculpem-me, mas nada mais sugestivo ao “você não é pago para pensar”. Argh!

Isto é perturbador, mas politicamente correto? Às favas o politicamente correto! Isto é sub-humano, e nada mais é do que uma autocracia mascarada de emprego. Quem foi que disse que nós, clientes, gostamos de ser atendidos por robozinhos acéfalos e desprovidos de emoção e amor-próprio? Quem deixou isto acontecer? Estamos nós no Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e eu não fui informada? Seres adaptados a serem pouco pensantes pertencentes à casta dos prestadores de serviços. Fala sério. Quanto desperdício de talento humano. Isto realmente é necessário? Por favor, estou aberta às respostas!

Sim, já sei o que vocês estão pensando e respondo:

  1. Eu não estou dizendo que sou mais inteligente que eles;
  2. Eles se sujeitam a isto pois precisam do emprego e não têm culpa do método de trabalho ridículo a que são expostos;
  3. Alguém tem que fazer isto;
  4. A satisfação do cliente em primeiro lugar (relativo!)
  5. Muito importante: as pessoas precisam ser tratadas com formalidade, e isto faz parte do negócio.

Ok. Mas, formalidade até que ponto? A culpa é nossa, creio que nós mesmos deixamos isto passar dos limites. Nós gostamos de nos sentir importantes, e a extrema formalidade foi inventada para nos enganar, para fazer com que nosso ego receba este tratamento de “lordes ingleses” com prazer (pena que fazem o mesmo a todos, já pararam para pensar?) e assim eles possam ganhar tempo e talvez nos desfocar do problema. Porém, esta eficaz tática do “embromation” nos acostumou a conviver com aquela aberração de “pessoa” robotizada e alienada, que a muito custo tenta manter um diálogo de “sim senhor”, “não senhor”, “vou transferir a linha para o meu superior senhor”, “nao temos vagas senhor”. E nós, com toda a pressa do mundo em resolver nosso problema, nem sequer nos lembramos de que elas ainda são pessoas e menos ainda de perguntarmos “desculpe, qual é mesmo seu nome?”.

Aí depois ficamos (hipocritamente?) quebrando a cabeça, falando em Gestão de Pessoas, relacionamento interpessoal, pensando em estratégias de como desenvolver as lideranças, os talentos e a criatividade, alinhar as idéias das gerações, administrar conflitos, inserir valores como confiança dentro das organizações, plantar uma semente de afeto, união e parceria entre lideranças e equipes, sendo que nós mesmos, ao mesmo tempo, barramos esta aproximação humana sendo coniventes com pessoas roboticamente treinadas. O que estamos querendo da vida, afinal? Quanta incoerência!

Gosto muito de uma frase que li há muito tempo, parece-me que de autoria do Luis Fernando Veríssimo: “Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com um garçom, não pode ser uma boa pessoa.”.

São detalhes que fazem toda a diferença, as palavras voam! Por isto eu digo, há muito o que mudar, mãos à obra. Quem vai comigo?

Imagem: Alexander Iglesias