Em Busca do Próximo Steve Jobs

Eu vejo os meus alunos da graduação e jamais me arriscaria a dizer qual deles se tornará um empreendedor bem sucedido no futuro. Todos eles podem se tornar o próximo Steve Jobs, tanto quanto nenhum deles.

Em 1976 Steve Jobs procurou o empreendedor Nolan Bushnell, um dos fundadores da lendária empresa de videogames Atari e pediu US$ 50 mil em troca de um terço das ações da sua recém criada empresa, a Apple Computers, que tinha a pretensão de produzir e comercializar computadores pessoais. Nolan disse ‘não’ e perdeu uma das maiores oportunidades de investimento do mundo.

Como mentor e padrinho do reality show ‘Finding the next Steve Jobs’, iniciado em 2013, Bushnell agora tenta encontrar o próximo Steve Jobs entre jovens potenciais de 20 anos. A pergunta que eu quero discutir hoje é: O que Bushnell aprendeu com o episódio junto a Jobs foi suficiente para ele ser bem sucedido neste projeto?

Para responder esta pergunta, convido todos a assistir ao filme Whiplash, que deu o Oscar ao brilhante J. K. Simmons, no papel do Prof. Fletcher do Conservatório de Shaffer, a melhor escola de música dos EUA. Extremamente rigoroso em seu método e cruel com seus alunos, Fletcher não poupa impropérios, ofensas e gritos com ninguém, muito menos com Andrew, baterista, um dos mais aplicados e talentosos alunos da escola.

Whiplash
PHOTOGRAPH BY DANIEL MCFADDEN / SONY PICTURES CLASSICS / EVERETT

Normalmente atribuímos os métodos rigorosos dos professores à uma contínua busca pela perfeição, o professor que exige muito de seus alunos esperando que eles se aprimorem a cada dia e consigam atingir todo o seu potencial na sua técnica e conhecimento. Este era o caso de Fletcher, como ele mesmo confessa a Andrew, quando ambos já estão fora da Shaffer:

“Eu não sei se as pessoas sabem o que de fato eu fazia na Shaffer. Eu não conduzia os músicos. Qualquer idiota pode fazer isso. Eu estava lá para pressionar as pessoas além do que era esperado delas. Isso era absolutamente necessário. Caso contrário, estaríamos privando o mundo do próximo Louis Armstrong, o próximo Charlie Parker. Você sabe como Charlie Parker se tornou Charlie Parker, não?”

OK, você não é obrigado a saber quem é Charlie Parker, mas conhecer a sua história é um ponto fundamental para o ponto que quero defender neste texto, por isso, vou deixar o próprio Fletcher explicar, depois você vê o resto no filme:

“Parker era jovem e muito bom no sax. Em uma das apresentações, ele errou. O seu professor, Jon Jones, atirou um prato nele e quase arrancou sua cabeça. Todos riram de Parker. Ele não dormiu naquela noite, mas sabe o que ele fez na manhã seguinte? Ele ensaiou, e depois ensaiou, e ensaiou e ensaiou. Ensaiou para que nunca mais alguém risse dele. Um ano depois, ele volta ao mesmo palco e deu ao mundo o melhor solo que alguém poderia produzir. Agora imagine o que aconteceria se Jones simplesmente dissesse ‘Tudo bem Charlie, não tem problema, bom trabalho’. Fim. Nada teria acontecido. Isso, para mim, seria uma verdadeira tragédia. Mas é isso justamente o que o mundo quer agora. E as pessoas se perguntam porque o jazz está morrendo”.

Se você tem vinte e poucos anos ou é pai, procure se lembrar quantas vezes alguém foi firme com você ou com seu filho, seja na escola, no trabalho, em casa, a ponto de confrontá-lo com as suas deficiências, ser honesto e direto sobre o quanto precisa melhorar. Quantas vezes você ou seu filho ficaram magoados com uma crítica negativa, porém honesta sobre suas limitações.

Muito bem, agora procure se lembrar de quantas vezes você ou seu filho erraram e alguém disse com paciência: ‘tudo bem’, ‘não tem problema’, ‘não fique chateado’, ‘da próxima vez vai dar certo’. Quantas vezes toleraram o seu erro ou do seu filho e não criticaram para não gerar traumas que possam afetar sua formação e seu desenvolvimento pessoal. Várias vezes, não?

Não preciso aqui repetir o que fez Steve Jobs se tornar Steve Jobs, mas já está óbvio para todos vocês que os tempos mudaram e a fórmula que fez surgir Steve Jobs e Charlie Parker já não é a mesma e podemos ter vários outros tipos de talento mas não vamos ter outro Steve Jobs.

O empreendedor não nasce pronto, ele é forjado pelas circunstâncias. Click To Tweet

E então, Bushnell está perdendo o tempo dele? Para a sua expectativa, é bem provável que sim. Até porque, aos vinte e poucos anos, Jobs era tão comum quanto qualquer outro adolescente. Muitas das características empreendedoras são desenvolvidas com a vivência de experiências distintas. Todos sabem que um dos maiores aprendizados que Jobs admite ter adquirido foi em função da sua demissão da Apple. O empreendedor não nasce pronto, ele é forjado pelas circunstâncias.

Eu vejo os meus alunos da graduação e jamais me arriscaria a dizer qual deles se tornará um empreendedor bem sucedido no futuro. Todos eles podem se tornar o próximo Steve Jobs, tanto quanto nenhum deles.

E é por isso que, como professor de empreendedorismo, trabalho todos os dias para que ninguém seja obrigado a falar: ‘E as pessoas perguntam porque o empreendedorismo está morrendo!’