Ser Gerente

Conversando informalmente com um participante em um de meus seminários gerenciais, ele contou o seguinte:

Trabalhava em uma grande empresa e sempre almejei ter um cargo gerencial. Seria minha realização pessoal e profissional. Eu via os gerentes dessa grande empresa como pessoas destacadas do grupo. Estavam sempre usando roupas alinhadas, camisas finas e gravatas, tinham reuniões constantes. Tinham o poder de decisão. Eu achava tudo isso fascinante.

Então, com o passar do tempo, já estando em um cargo de chefia no escalão intermediário, comandando uma pequena equipe, fui chamado pelo meu diretor que comunicou o que era de minha expectativa: estava sendo promovido a gerente nesta bela e exemplar empresa. Meu sonho estava sendo realizado.

Num primeiro momento, um filme sobre meu futuro passou pela minha mente. Logicamente fiquei muito feliz tendo essa “visão”, pois isso representava para mim um status diferenciado. Novos desafios, novas perspectivas. Teria meu salário melhorado, uma participação anual, teria minha vaga no estacionamento privativo, uma garrafa de café na minha sala e uma mini geladeira. E ainda incorporaria outras áreas, teria mais pessoas sob meu comando. Na euforia eu pensei no ter antes de pensar no ser.

Meu diretor, percebendo meu devaneio, chamou-me à realidade e enfaticamente fez-me perceber o que significa ser gerente: “A partir de hoje, você não precisa mais pensar em executar as atividades. Saiba que sua maior missão a partir de agora é desenvolver pessoas. Você terá muito mais subordinados do que tinha antes e eles têm cargo de supervisão, portanto irão fazer muitos questionamentos”.

E continuando:

“Esqueça todos os benefícios que o cargo lhe irá proporcionar. Se você não souber desenvolver as pessoas que irão fazer parte de sua equipe de nada adiantará essa sua promoção. Lembre-se sempre que ser gerente não é ter um título ou benefícios, mas sim conseguir resultados através de sua equipe de trabalho e de seus colegas na empresa. Se você não conseguir desenvolver pessoas, a notícia que hoje lhe está sendo agradável poderá tornar-se a pior delas”.

“Eu sei que você passou por alguns treinamentos gerenciais e com seu potencial poderá se dar bem no cargo, mas isso é apenas o começo. Você já conseguiu alguns bons resultados em sua função atual e por esse e mais alguns motivos estamos dando-lhe uma promoção, mas o seu aperfeiçoamento deve ser constante. Lembre-se que o auto-desenvolvimento da carreira é fundamental. Não perca a oportunidade de adquirir novos conhecimentos. Isso irá facilitar muito seu desempenho”.

Sábias palavras. Deveria ter dado maior atenção a elas.

Embora eu tivesse algum conhecimento sobre atividades gerenciais, faltavam-me algumas habilidades, principalmente no trato com as pessoas. Nos primeiros meses “troquei as mãos pelos pés” algumas vezes. Quase cheguei a ter algum prejuízo com isso, mas procurei refletir sobre a orientação recebida.

Eu pensava que sabia trabalhar com pessoas, desenvolvê-las. Pensava, ainda, que possuía o conhecimento e as habilidades necessárias para lidar com a equipe e realmente via que outros gerentes conseguiam melhores resultados com suas equipes do que eu conseguia com a minha. Mas qual a razão? Daí a colocar culpa naqueles que trabalhavam comigo foi fácil. Pudera, pensava eu, a qualidade da mão-de-obra desta região é ruim e eu tenho os piores funcionários.

Mas, espere! A mão-de-obra de meus colegas, que têm melhores resultados, é desta mesma região. ALGO ESTÁ ERRADO e percebi que era comigo. Observei bem e pude notar que meus colegas gerentes tinham as competências fundamentais exigidas pelas empresas hoje, em que a gestão do conhecimento predomina. Observei muito e vi que uma delas é o gerenciamento da própria carreira, a comunicação clara, a cooperação e eles aprenderam a aprender, foram treinados e participavam de cursos de aperfeiçoamento sem esperar que a empresa os enviasse para esse desenvolvimento profissional e, por isso, sabiam liderar os membros de suas equipes e conseguiam resultados expressivos.

Quantos erros cometi! Eu não havia percebido que o mundo havia mudado tão rapidamente e eu não enxergava isso claramente. Eu precisei mudar, e rápido, o que não foi fácil, pois as pessoas – e aí eu me incluí – não gostam de mudanças. Mas eu o fiz. Isso foi extremamente necessário. Atualmente estou em constante aprendizado e assim consegui e consigo melhores resultados com a equipe. Percebi que tenho a melhor equipe e acredite: é incrível, mas as pessoas ainda são as mesmas!

Eu nunca mais esperei ser convocado a participar de cursos e treinamentos necessários ao meu desempenho. Eu vou até eles! É por isso que estou aqui.

Posso dizer que esse gerente, após poucos anos, conseguiu resultados de tal maneira que hoje não é mais gerente e sim diretor superintendente de uma das unidades dessa grande empresa.